Olá comunidade leitora!
O bom de conhecer novos autores e obras é poder sair das caixinhas que estamos sempre acostumados e nos aventurar em estilos novos, universos novos e mergulhar numa multiplicidade diferente. Nessa edição da newsletter da Bodega Literária iremos conhecer um pouco sobre Rubem Fonseca e sua obra “A coleira do cão” leitura para o projeto “Raízes: Lendo Brasileiros”. Aqui fica o convite para que você possa conhecer um pouco mais sobre esse grande contista brasileiro.
Nessa edição você confere:
análise do livro “A coleira do cão” de Rubem Fonseca e
os livros lidos no mês de Setembro.
Boa leitura!
CAPÍTULO 01: RUBEM FONSECA - A COLEIRA DO CÃO | #RAÍZESLENDOBRASILEIROS
Foi nesse mês que dei início ao projeto “Raízes: Lendo Brasileiros” e o primeiro livro lido foi do mineiro Rubem Fonseca, com seu título “A coleira do cão”. Confesso que achei que a leitura seria chata, mas não, o livro me mostrou muito multidimensional, com temáticas que ainda se comunicam com a nossa atualidade e uma narrativa muito bem construída, num estilo único apenas dele. Mas antes de falar mais sobre a obra, queria te perguntar? Você já conhecia Rubem Fonseca?
José Rubem Fonseca foi um romancista, ensaísta e roteirista brasileiro, mas sua maior paixão foi pelos contos, tanto que há diversas coletâneas com diversos de suas produções nesse gênero. Nascido em Juiz de Fora, MG, Rubem Fonseca ganhou o mundo com suas produções, ganhando diversos prêmios como o Camões, o mais famoso da língua portuguesa. Infelizmente em 15 de abril de 2020 ele falece. Com uma forma profunda e um olhar aguçado, Rubem Fonseca deu vozes a diferentes tipos de personagens, mas destaco aqui aqueles representados pela sua marginalização, sua classe social e seus problemas, fazendo com que suas narrativas fossem um registro da violência e do descaso no Brasil quanto a população mais pobre e esquecida, vivendo a margem da sociedade. Muitos dos seus contos falam sobre meninos de rua, prostitutas, mendigos e trabalhadores da classe operária, numa pintura brutal, mas também linda, do verdadeiro Brasil.
Muito de seus críticos vão dizer que Rubem Fonseca escreve de maneira bonita, mas sobre coisas brutais, onde o assunto de suas observâncias se baseia no pilar sobre a violência social, sexual e econômico. Seus personagens também vivem num estado de degradação, de animalização e a enfrentar problemas que o colocam num impasse sobre o sentido da vida. Daí então dizer que seus personagens são quase vivos, saltando das páginas e refletindo a vivência de nossos dias. Por isso, seus contos ganham uma característica de crônica social e conversam muito bem com nossa atualidade, sempre envelhecendo bem. Seu cenário preferido é o Rio de Janeiro, com pessoas comuns (banhistas, policiais, médicos, mulheres entediadas, etc) e com diálogos que se assemelham muito a conversas teatrais, tanto que em alguns casos há pouco espaço para a intromissão de um narrador.
Assista abaixo a resenha em vídeo sobre “A coleira do cão”.
Escrito em 1965 “A coleira do cão” é uma coletânea de oito contos dispersos em diversos assuntos. Muitos dizem que a obra trata-se de uma continuação de outro livros de contos de sua autoria chamado “Os prisioneiros”, tanto que alguns personagens aparecem em ambas as obras. Considerado como o livro essencial da literatura brasileira, uma vez que Rubem Fonseca coloca o leitor frente a sua própria imagem de beleza em meio ao horror e a violência. Na verdade durante a leitura vemos um misto de personagens complexos e com seus problemas próprios, sempre a procura de um ideal, de algo que os complete, num ambiente caótico que os tire de suas vidas (quase) pacatas. O que sei é que diversas vezes me senti desconfortável por diversos fatores: a posição dos personagens, a realidade na qual estão inseridas ou até mesmo a personalidade de algum deles. Dentro dos oito contos elaborados perpassamos por: Policiais que se questionam sobre o ambiente em que estão inseridos, médicos que estão a tratar sobre a cirurgia de um paciente para sua mudança de sexo, maridos que traem suas esposas e ainda continuem com a sensação de falta, uma família racista que discute sobre o neto estar a namorar uma negra, os sonhos de um jovem boxeador que encontra um duplo pelas ruas do Rio e diversos tantos outros personagens, que pendem numa balança para refletir sobre o sentido da vida, a vida do outro, a busca pelo ideal, pela felicidade e o preenchimento de um vazio às vezes sem razão.
Ler Rubem Fonseca é adentrar esses mesmos questionamentos, essas mesmas discussões. Confesso que gostei da leitura, mas houve momentos em que fiquei incomodado com certas coisas, como por exemplo, algumas vozes narrativas que incomodam, com falas um pouco misóginas e carregadas de machismo (o que não sei se foi intencional ou se pode ser uma marco do autor), algumas perspectivas também sobre as mulheres nos contos, sempre da visão masculina e com tratamento “objetificado”. Confesso também que não sou muito fã de romances policiais e aqui o Rubem traz elementos forenses e investigativos que lembram o gênero policial. Mas esses traços machistas e essa visão distorcida de alguns personagens apenas contemplam a nossa atualidade, servindo de base para o debate atual e fomentando a quebra dessas visões.
No modo geral é um bom livro. Fiquei curioso para também ler seus romances uma vez que a construção poderá ser bem detalhada e trazer personagens incríveis. Deixo a recomendação para aqueles que gostam do gênero conto, assim como a temática apresentada, já que trará grandes discussões e pode, para aqueles que trabalham com educação, ser um excelente texto para a sala de aula, já que os elementos são importantes para sua análise.
E qual será o próximo título lido?
Nossa próxima leitura será do livro “A cabeça do santo” de Socorro Acioli.
Autora brasileira e com algumas curiosidades bem interessantes que levaram a produção desse livro.
Pegue seu exemplar, começa a ler, porque a nossa próxima aparição será para tratar sobre essa obra contemporânea.
LIDOS DO MÊS: SETEMBRO
Essas foram as leituras realizadas durante o mês de Setembro. Desde a paixão desenfreada de Madame Bovary, passando pela filosofia poética de Aristóteles, até a grande fantasia de Tolkien.
📚 “Madame Bovary” de Flaubert: Este romance realista francês segue a vida de Emma Bovary, uma mulher que, insatisfeita com seu casamento e entediada com a vida rural, busca fugir da monotonia através de fantasias românticas e extravagâncias. No entanto, suas escolhas a levam à autodestruição, tornando o livro uma crítica à sociedade burguesa e um estudo da psicologia humana.
📚 “Poética” de Aristóteles: Neste trabalho filosófico grego, Aristóteles explora a teoria da tragédia e da poesia, destacando os princípios que guiam a criação de dramas e obras literárias de qualidade. Ele enfatiza a importância da catarse, onde a audiência experimenta uma purificação emocional ao testemunhar tragédias, tornando o livro essencial para compreender a estética e a narrativa na literatura e no teatro.
📚 “O Hobbit” de Tolkien: Este livro de fantasia é um prelúdio para "O Senhor dos Anéis" e segue a jornada de Bilbo Bolseiro, um hobbit que embarca em uma aventura épica para ajudar um grupo de anões a recuperar seu reino de um dragão. A história destaca a autodescoberta e heroísmo de Bilbo em um mundo repleto de elementos de fantasia.
Como sempre, clicando nos links você tem acesso as resenhas direto da página do instagram da Bodega Literária. Não deixe de conferir.
Setembro foi um mês incrível em nossa jornada literária, quando exploramos a obra e a vida fascinante do grande escritor Rubem Fonseca. Suas palavras continuam a serem importantes, de certo ponto, para a literatura brasileira.
Fiquem atentos à nossa próxima edição, que promete mais aventuras literárias e descobertas emocionantes através de nossos projetos de leitura.
Até a próxima!
Bodega Literária!
P.s.: Se você perdeu as edições anteriores, pode usar o atalho abaixo para sua leitura:
Amei o vídeo e as tuas impressões sobre o livro do Rubem!