Olá comunidade leitora!
Como que está o frio e as chuvas por aí? Aqui na minha cidade a transição do inverno para o verão já está começando. Dessa vez a newsletter da Bodega Literária está um pouco nostálgica. Nessa edição resgato para vocês um registro de como foi realizar uma das grandes leituras de José Saramago, leitura essa que mudou a minha visão de mundo quanto leitor.
Nessa edição você confere:
um texto sobre O Evangelho Segundo Jesus Cristo de Saramago;
os livros lidos no mês de julho;
uma listinha de indicações da Bodega e
um artigo sobre Iniciação Cientifica na Educação Básica.
Boa leitura!
Um olhar saramaguiano para a vida
“O filho de José e Maria nasceu como todos os filhos dos homens, sujo do sangue de sua mãe, viscoso das suas mucosidades e sofrendo em silêncio. Chorou porque o fizeram chorar, e chorará por esse mesmo e único motivo...”
É assim, em meio a sangue, dores e realidade que José Saramago encarna a escrever a sua versão do Evangelho de Jesus sob sua própria perspectiva, de uma maneira “humanizada”, consistente, dorida, tênue e não totalmente sagrada. Foi com esse livro que o autor mudou completamente sua carreira, não somente no sentido de alcançar uma carreira sublime como gênio da literatura, mas também como o homem que dividiu o seu país em duas categorias: Os que o amavam e aqueles que o queriam banido de seus país por escrever tanta blasfêmia com o patrimônio cultural cristão.
Muitos diziam “Como pode um ateu, que não conhece nada de nossa religião, ter o direito de querer escrever algo do qual não lhe interessa e não lhe faz parte?” E Saramago respondia que exatamente ele, por seu ateu, que foi criado e educado quando mais novo na tradição cristã, tão impregnado dos preceitos católicos, teria mais que o direito de escrever o que bem entendesse sobre a vida de Cristo, o homem mais estudado no mundo. Houve polêmicas, críticas, revoltas partidárias, cancelamentos da parte do Governo Português de prêmios que seriam concedidos ao autor, e milhares e milhares de cartas, protestos, ligações e xingamentos que Saramago teve que aturar em sua vida, até mesmo depois de anos da publicação da obra. No fim de tudo, Saramago acabou se exilando (palavra que ele odiava) de seu país, indo morar com sua esposa, Pilar, na ilha Lanzarotti, onde viveu o resto de seus dias.
O Evangelho segundo Jesus Cristo, como o próprio nome diz, vai contar a trajetória de Jesus, desde o seu nascimento, na verdade até mesmo os primórdios de sua concepção, até chegar a sua crucificação. Se olharmos por um ângulo melhor da história, Saramago irá dar importância a dois homens nesse enredo: José, seu pai, carpinteiro e pouco mencionado na história bíblica, que assume dúvidas a respeito de sua paternidade e das verdades contadas por Maria, sua mulher; e Jesus, um rapaz que começa cedo a entender o peso que carrega nas costas, procurando entender seu destino na terra e saciar sua sede de dúvidas. Apesar de serem personagens tão diferentes, os dois passam a ter várias coisas em comum: O destino, suas dúvidas e até mesmo as sinas. Diferente da bíblia, sabemos um pouco mais sobre o destino de José, uma vez que Saramago, usando da paródia bíblica, nos dá explicações bem lógicas para os fatos tido como sagrados ou milagrosos. Com um humor ácido, o autor tece várias críticas a cultura machista da época, as costumes judeus e as leis impostas pelo rei. Conforme o tempo vai passando vamos sendo levados a conhecer outros personagens conhecidos, como a própria Maria, mãe de Jesus, que aqui representa as Marias do mundo que são oprimidas, não escutadas e levadas conforme as leis dos homens. Entre outros personagens, aqui destaco os meus preferidos, Deus e o Diabo, figuras antagônicas, apesar de serem tidas como semelhantes, mas que são carregados de personalidade e humor. Diferente da bíblia, Saramago constrói um Deus tido como o vilão da história, usando de Jesus como um joguete em suas mãos para conseguir alcançar seu plano: Conquistar ainda mais o mundo. Já o Diabo, aqui visto como um ser inteligente, perspicaz e esperto, é o personagem que mais se mostra com sabedoria, transmitindo seus ensinamentos a Jesus durante sua vida.
Ao invés de se ater à visão religiosa convencional, Saramago questiona dogmas e crenças, desafiando os leitores a considerar outras perspectivas sobre a vida e a mensagem de Jesus. O livro confronta o leitor com dilemas éticos, questões existenciais e uma visão crítica sobre poder e religião. Ao ler "O Evangelho Segundo Jesus Cristo", você não apenas encontrará uma narrativa cativante, mas também será desafiado a repensar suas convicções, aprofundando-se em um terreno literário e filosófico complexo. A riqueza das palavras de Saramago nos leva a uma jornada de questionamento, reflexão e, acima de tudo, busca por compreensão mais profunda sobre o humano e o divino.
Lidos do mês: Julho
Essas foram as leituras realizadas durante o mês de Julho. Foi uma aventura pelos clássicos! Desde conhecer a Idade Média através da mágica literatura de Umberto Eco, passando pelo lado romântico de Dostoiévski em Noites Brancas e findando com o espetacular Paraíso Perdido de John Milton.
📚 "O Nome da Rosa" de Umberto Eco: Nesta envolvente obra, Adso, um jovem noviço, acompanha o monge detetive William de Baskerville em uma abadia beneditina. Enquanto investigam uma série de assassinatos misteriosos, eles enfrentam enigmas literários, conflitos religiosos e segredos ocultos. O romance combina mistério, erudição e reflexões sobre fé e conhecimento, desvendando as verdades por trás dos sinistros acontecimentos.
🌙 "Noites Brancas" de Dostoiévski: Nesse conto emocionalmente profundo, um homem solitário encontra uma mulher nos parques de São Petersburgo durante as noites brancas do verão. Compartilham suas histórias e desejos, criando uma conexão fugaz. A obra examina temas como solidão, ilusões românticas e a efemeridade das relações humanas, tudo isso imerso na atmosfera nostálgica das noites de verão.
🍃 "Paraíso Perdido" de John Milton: Esta epopeia épica mergulha na queda de Lúcifer e a expulsão de Adão e Eva do Paraíso. Milton explora temas como a rebeldia, o livre-arbítrio e o conflito entre o bem e o mal. Com versos magníficos, o poema épico convida os leitores a refletirem sobre a natureza humana, a tentação e a busca pela redenção, traçando a jornada da humanidade através de um prisma teológico e filosófico.
Como sempre, clicando nos links você tem acesso as resenhas direto da página do instagram da Bodega Literária. Não deixe de conferir.
Indicações da Bodega Literária
É tanta coisa que a gente consome pela internet, redes sociais e demais mídias que torna-se claro que algumas coisas merecem destaques. Abaixo estão alguns links de páginas, perfis e afins para você escrolar quando estiver entediado.
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Li e falei do Vedson;
Conecta Books do Diego Plubins
Essas são apenas algumas das incríveis páginas que sigo e que produzem conteúdo de qualidade aqui pela net! Leiam, sigam, consumam!
Epi logo existo: O diário de um estudante.
E começou mais um semestre!
Antes de começar eu já estava bem ansioso, uma vez que eu sabia que era nesse período que de fato eu entraria no mundo das letras, já que teríamos disciplinas como Teoria Literária I, Linguística I, Literatura Latina e outras, que comprovariam a minha entrada naquilo que estava me metendo de fato. Como faço um curso EAD, um dos lados bons desse método é que você mesmo consegue ter seu ritmo (mesmo que esse ritmo seja acelerado), ou seja, eu consigo ler no meu conforto, consigo adicionar leituras complementares e realizar outras ligações com textos e pesquisas que auxiliem no aprendizado. Um dos males: querer ler tudo e ainda mais. Criei uma lista com vários livros que nem sei se darei conta de tamanha ousadia. Mas isso foi culpa de Aristóteles, uma vez que lendo sua “Poética” na disciplina de Teoria Literária, ele falou tão bem de Homero e Eurípedes que não resisti a querer (por enquanto só querer) colocar na lista suas principais obras, como Medeia e Ilíada, já que Odisseia já li.
Mas enfim, vamos com calma que ainda há muito chão a percorrer. Abaixo deixo para vocês outro trabalho produzido durante o primeiro período, dessa vez da disciplina de Metodologia Cientifica sobre Educação Básica.
Leiam aqui: Artigo: Iniciação Científica na Educação Básica
E por hoje é só! Agradeço a você que chegou até o fim da leitura dessa newsletter construída com tanto carinho e noites mal dormidas (risos). Espero que com as minhas poucas e estranhas palavras eu consiga tocar você sobre aquilo que mais amamos: a literatura.
Até uma próxima!
Bodega Literária.
P.s.: Se você perdeu as edições anteriores, pode usar o atalho abaixo para sua leitura.
Que alegria estar nessa lista de indicações, Rodolfo!
Adoro o Bodega e adoro nossas trocas. <3