Olá comunidade leitora!
Entre o mundo da realidade, o mundo da fé e o mundo da imaginação Socorro Acioli tece um fio que une todas essas possíveis aventuras dentro do universo da cidade de Candeia, no interior do nordeste do Ceará. Nessa edição da newsletter da Bodega Literária você confere um texto sobre a obra “A cabeça do Santo” e um pouco da autora que deu vida a esse livro tão bem recebido pelos leitores.
Nessa edição você confere:
análise do livro “A cabeça do santo” de Socorro Acioli e
os livros lidos no mês de outubro.
Boa leitura!
CAPÍTULO 02: SOCORRO ACIOLI - A CABEÇA DO SANTO | #RAÍZESLENDOBRASILEIROS
O mais poético da história de Socorro Acioli e saber a sua trajetória como pessoa nesse mundo, principalmente num mundo cheio de dificuldades, pois essa autora cearense só mostra o quanto tem garra e força de vontade para ganhar o mundo. Lendo seu livro, articulando os elementos de sua criação e as metáforas sobre caminhos, jornada e força, é possível enxergar os meandros de sua cabeça que, com personagens muito bem construídos e uma mote que prende o leitor do começo ao fim, só mostram a potência de sua literatura em nossa contemporaneidade. “A cabeça do santo” é um livro que prende o leitor não só pela curiosidade nata do leitor, mas também porque é um livro que se entranha em nossos sentimentos e meio que começa a fazer parte de nossa vida, da nossa própria jornada.
Socorro Acioli nasceu em Fortaleza - CE, é jornalista e doutora em estudos de literatura pela Universidade Federal Fluminense no Rio de Janeiro. Publicou diversos gêneros como ensaios biográficos e obras infantojuvenis, onde um de seus livros, “ela tem olhos de céu” pela editora Gaivota, ganhou o prêmio Jabuti de literatura infantil em 2013. Socorro mostra-se plural na sua escrita e na sua forma de ver o mundo, onde pequenos detalhes transformam-se em grandes narrativas. Numa entrevista para o Fantástico a autora relata que sempre gostou de ouvir as histórias que sua avó contava quando ela era pequena e que essa rotina de ouvir os “causos” da avó foi a semente para que ela se tornasse a escritora que é hoje.
Foi com essa semente e sua força de vontade em querer ganhar o mundo que em 2005 participou do exclusivo curso de escrita criativa orientado por ninguém menos que… Gabriel García Márquez. Após sucessivas tentativas de entrar no curso e os diversos e-mails solicitando a sua admissão, finalmente Socorro Acioli fez suas malas e partiu para Cuba onde participou do que seria um dos últimos cursos mestrados pelo Gabo. O fruto da participação nesse curso é o livro “A cabeça do Santo”, que foi a nossa próxima leitura no projeto “Raízes: Lendo Brasileiros”.
Quando Gabo perguntou qual seria o mote da história que seria criado por Socorro Acioli, ela responde que queria escrever uma história sobre uma cabeça gigante de Santo Antônio abandonada numa cidade no interior do Ceará. Gabo fica surpreso com a ideia e diz que o imaginário dela é bastante criativo, até que Socorro explica que na verdade a cabeça do santo realmente existe e que foi isso que a motivou na sua história
.O projeto da estátua de Santo Antônio no pico do morro começou em 1984, e a ideia do então prefeito, Raul Linhares, era atrair o turismo religioso para a cidade, seguindo os passos da vizinha Canindé. Porém, a obra parou em 1986 por falta de recursos. E a cabeça, montada no chão, nunca foi levada até o corpo. São quase 40 anos de um Santo Antônio fragmentado no sertão central do Ceará. O corpo sem cabeça da estátua está no alto do morro no município de Caridade. A quase três quilômetros de distância, repousa a cabeça em meio às casas da rua Cento e Dois, no Conjunto Habitacional. A obra que nunca deu certo virou história de repercussão internacional e vai parar no cinema.
(Matéria do Portal G1 em setembro de 2023. (Leia aqui)
É com essa ideia que a autora cria a história de “A cabeça do Santo”.
Logo nas primeiras páginas conhecemos o personagem Samuel que em sua romaria particular quer chegar a cidade de Candeia. Em sua cabeça há dois objetivos: Primeiro conhecer sua avó paterna e segundo matar o seu pai. É nessa jornada particular que o leitor é fisgado logo no início, uma vez que se cria no leitor a curiosidade em saber os motivos que levaram Samuel a iniciar essa jornada e somente com o desenvolver da leitura é que encontraremos respostas. Além dessas curiosidades, há uma narrativa poética, quase onírica, cheia de frases belas e com descrições tocantes sobre o sertão nordestino, com sua típica forma de se viver e sua aridez que assusta mas que também abraça. Ao chegar na cidade de Candeia após uma longa jornada, Samuel é escorraçado pela sua avó que o enxota para um caverna estranha onde ele passa a sua primeira noite de bom descanso. Somente quando acorda é que Samuel se dá conta que na verdade o local onde dormiu não é uma caverna, mas sim o oco de uma grande cabeça de Santo Antônio que foi largada pelas rua daquela cidade quase fantasma.
Samuel, junto com o leitor, irá aos poucos se dar conta que diversas vozes começa a reverberar naquele interior e que só ele é capaz de ouvir. São vozes de mulheres que rezam, que pedem, que cantam e que levarão Samuel a ajudá-las de alguma forma. Aos poucos tanto o leitor como o personagem irão se dar conta que a cidade sofreu abalos desde o esquecimento daquela cabeça e que agora com esses “milagres” acontecendo - que é a ajuda ofertada por Samuel - outros rumos começam a transformar a cidade que antes era pacata. Nesse labirinto de narrações e causos, num mergulho entre passado e presente, quase parecido ao estilo de Ruan Rulfo em “Pedro Páramo”, iremos descobrir a história do povo daquela cidade, a origem de Samuel e sua relação com sua família paterna, além das transformações que Candeia passa, configurando num grande mergulho da literatura do realismo fantástico num cenário brasileiro nordestino.
É preciso ler Socorro Acioli para se conhecer a literatura surpreendente de uma escritora nordestina, mulher, que lutou na vida para alcançar o seu dom no mundo e ganhar leitores que se prendem a um imaginário que cativa, que nos prende e que nos faz refletir sobre nossa fé, nosso lugar no mundo (do pequeno ao grande mundo) e o poder das palavras na literatura.
Assista abaixo a resenha em vídeo sobre “A cabeça do Santo”
E qual será o próximo título lido?
Traiu ou não traiu? Essa é uma das grandes polêmicas levantadas pela obra “Dom Casmurro” de Machado de Assis.
Pegue seu exemplar e vamos começar a ler, porque a nossa próxima aparição será para tratar sobre essa obra clássica de um dos grandes autores de nosso Brasil.
LIDOS DO MÊS: OUTUBRO
Essas foram as leituras realizadas no mês de Outubro. Desde a prosa envolvente de Jorge Amado, passando pelos conflitos da família Beneth, até chegar a vida real nos contos de Rubem Fonseca.
📚 “As Mortes e o Triunfo de Rosalinda" de Jorge Amado: A narrativa envolvente de Jorge Amado acompanha Rosalinda, mulher resiliente em Salvador. Amado tece uma trama rica, explorando relações humanas e a busca pelo triunfo, oferecendo uma reflexão profunda sobre a força interior diante das adversidades na alma baiana
📚 “Orgulho e Preconceito" de Jane Austen: Nesta comédia romântica atemporal, Austen aborda questões de classe, casamento e os desafios do orgulho e preconceito no caminho do amor verdadeiro, oferecendo uma análise perspicaz da sociedade.
📚 “A Coleira do Cão" de Rubem Fonseca: Explorando temas como violência, corrupção e dilemas morais, Fonseca proporciona uma leitura provocante, incitando reflexões profundas sobre a complexidade da condição humana.
Importante lembrar que o Projeto “Raízes: Lendo Brasileiros” continuará a cada mês com a leitura de títulos nacionais e com as postagens sobre a obra aqui na newsletter, uma vez que esse espaço é o canal para a divulgação dessas obras e sua importância no cenário brasileiro. Acontece que produzir conteúdos para diversos canais acaba tornando-se cansativo e pouco rentável e com isso tomei a decisão de parar com a produção de vídeos para o youtube, já que requer tempo e muita (mas muita mesma) dedicação. Mas não significa que o projeto irá acabar, pelo contrário, apenas que estou refinando a forma como compartilho o conteúdo que saí da minha cabeça e chega até quem me lê.
Ultimamente as minhas leituras andam reduzidas em quantidade, mas a qualidade da leitura e da produção de discursões sobre as obras melhorou muito. Isso equivale dizer que chegamos num momento em nossa vida que os números já não importam tanto.
Como sempre, espero que esse conteúdo chegue até você e que te toque de alguma maneira especial, produzindo a vontade para que você pegue aquele livro esquecido em algum lugar e começa, de forma prazerosa, a sua leitura.
Até a próxima!
Bodega Literária.
P.s.: Se você perdeu as edições anteriores, pode usar o atalho abaixo para sua leitura: